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Quando o Problema Não é o Cliente: Lições de Gestão em uma Prestação de Serviço Mal Conduzida

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    LR Adm
  • há 1 dia
  • 4 min de leitura

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Conflitos entre clientes e prestadores de serviço raramente surgem do nada. Na maioria das vezes, eles são resultado de falhas básicas de gestão, comunicação e governança. Recentemente vivi uma experiência que, apesar do desgaste, trouxe aprendizados valiosos, especialmente sobre o que não fazer ao conduzir uma relação comercial.


Mais do que um relato pessoal, este texto é um exercício de administração aplicada.


O contexto


Busquei um prestador para realizar um serviço técnico residencial que envolvia equipamentos, mão de obra especializada e execução futura. O primeiro contato ocorreu por telefone institucional, seguido de visita técnica presencial no mesmo dia.


O atendimento inicial foi tecnicamente bom, com domínio do assunto e propostas claras. A negociação avançou rapidamente e o serviço foi fechado para execução em data futura.


Até aqui, tudo parecia dentro do esperado.


Onde começam os problemas


O primeiro ponto crítico surgiu no modelo de pagamento: foi solicitado o valor integral antecipado, sob a justificativa de compra de materiais e reserva de agenda. Embora não seja ilegal, essa prática transfere todo o risco ao cliente, especialmente quando não há contrato formal.


O segundo ponto foi a ausência de contrato escrito. Houve promessas verbais de recibo, garantia e documentação, mas nada foi formalizado no momento do pagamento.

Essas duas decisões, do ponto de vista administrativo, criaram um desequilíbrio total da relação.


  • O primeiro erro: cobrar 100% antecipado


Do ponto de vista de gestão de risco, cobrança integral antecipada é um erro clássico em serviços que envolvem:

  • execução futura,

  • deslocamento,

  • mão de obra especializada,

  • dependência de terceiros.


👉 Boa prática:

Solicitar entrada máxima de 20%, suficiente para:

  • sinalizar compromisso do cliente;

  • custear materiais iniciais;

  • reduzir risco de desistência.


O saldo deve ser condicionado à execução ou entrega. Isso protege ambos os lados.


Contrato não é burocracia, é proteção


Outro erro grave é confiar apenas em acordos verbais ou mensagens informais.


Um contrato de prestação de serviço não precisa ser complexo, mas deve conter:

  • escopo claro;

  • valores discriminados (peças × mão de obra);

  • prazos;

  • garantia;

  • penalidades por descumprimento;

  • política de cancelamento.


👉 Empresas maduras não fogem de contrato — usam o contrato como instrumento de confiança.


A execução que nunca aconteceu


Na data combinada para execução, o serviço não foi realizado. Ao longo do dia, houve diversas mensagens informando deslocamentos, técnicos a caminho e ajustes de agenda, mas nenhuma delas se concretizou.


O cliente permaneceu disponível, aguardando, enquanto a execução era constantemente postergada.

Esse tipo de situação não é apenas um atraso operacional: é um sinal claro de falta de controle interno.


  • Pontualidade é percepção de competência


Atrasos reiterados, desencontros e promessas não cumpridas não são apenas falhas operacionais. Eles transmitem uma mensagem clara ao cliente:

“Não temos controle do nosso próprio processo.”

Pontualidade não é detalhe. É indicador de maturidade organizacional.


  • Comunicação desalinhada destrói confiança


Durante qualquer negociação, o cliente emite sinais. Dúvidas, pedidos de confirmação, solicitações de recibo ou contrato não são desconfiança gratuita, são pedidos de segurança.


👉 Um erro comum é interpretar isso como “cliente difícil”.


Na realidade, o papel do prestador é:

  • perceber o sinal;

  • reduzir a assimetria de informação;

  • reforçar transparência.


Quando isso não acontece, a relação degrada rapidamente.


  • Misturar pessoa física e jurídica é falha grave de governança


Outro ponto crítico é a confusão entre atuação pessoal e empresarial:

  • pagamentos pulverizados;

  • máquinas de terceiros;

  • ausência de nota fiscal;

  • responsabilidade difusa.


Do ponto de vista administrativo, isso é risco operacional elevado e sinaliza falta de estrutura.


Empresas sérias centralizam recebimentos, responsabilidades e contratos.


A quebra de confiança


Com o passar das horas, ficou evidente que havia confusão entre atendimentos pessoais e empresariais, responsabilidades difusas e dependência de terceiros para recebimentos e decisões.

Do ponto de vista de administração, isso revela:

  • ausência de processos claros;

  • mistura entre pessoa física e jurídica;

  • fragilidade de governança;

  • alto risco operacional.


Nesse momento, o problema deixa de ser técnico e passa a ser estrutural.


  • Confiança não se pede, se constrói


Enviar documentos pessoais, prometer “resolver depois” ou pedir compreensão não substitui processos.

Confiança nasce de:

  • previsibilidade;

  • registros formais;

  • clareza;

  • cumprimento de prazos.


Quando a confiança precisa ser “explicada”, normalmente ela já foi abalada.


O cancelamento


Diante da não execução do serviço, optou-se pelo cancelamento. O próprio prestador reconheceu o erro, admitiu a falha de gestão e concordou com a devolução integral dos valores.


Embora o desfecho tenha sido encaminhado de forma civilizada, o desgaste emocional e o tempo perdido poderiam ter sido totalmente evitados com práticas básicas de gestão.


  • Gestão ruim custa caro


Essa experiência reforçou algo essencial:


o problema raramente é o cliente.


Na maioria das vezes, é a ausência de método.


Empresas que desejam crescer precisam entender que:

  • processos protegem,

  • contratos organizam,

  • limites evitam conflitos,

  • e respeito ao cliente é estratégia, não gentileza.


Transformar erros em aprendizado é o que separa improviso de gestão.


📚 Fontes bibliográficas e referências

  • KOTLER, Philip; KELLER, Kevin. Administração de Marketing. Pearson.

  • CHIAVENATO, Idalberto. Administração Geral e Pública. Elsevier.

  • MAXIMIANO, Antonio Cesar Amaru. Teoria Geral da Administração. Atlas.

  • Código de Defesa do Consumidor – Lei nº 8.078/1990.

  • PMBOK® Guide – Project Management Institute (Gestão de escopo, risco e stakeholders).

  • SEBRAE. Boas práticas em contratos de prestação de serviços.

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